Relato de uma semana nada rotineira em Coimbra, Portugal.
(Por Ananda Maciel)
Quinta-feira comum, de início de primavera, na cidade de Coimbra, um dos lugares mais antigos e famosos de Portugal. Porém, não foi um dia como outro qualquer para certo grupo de estudantes que vivem na residência universitária Azinhaga de Santa Comba, localizada no Pólo III da Universidade de Coimbra. Afinal, eles são ISAC, ora! São todos jovens brasileiros, entre 18 e 23 anos, que vieram de várias universidades públicas do país através da bolsa do Programa Erasmus Mundus. Tornaram-se amigos de forma igualmente incomum, rápida e contagiantemente serena; conhecessem-se há poucas semanas, mas seu laço de amizade torna-se mais forte e seguro a cada dia.
Jéssica (Jeh): nossa, essa menina não pára um segundo! Se ela dormir, cuidado: são mais 48 horas de pilha Duracell!!! Ela é movida à chocolate e muitas doses de risada. Também veio da UFPA e cursa Psicologia.
Vivian (Vivi): Faz Engenharia Química na UFPE, mas nasceu no Rio de Janeiro. Ela é meiga, doce e tranquila.
Bruno (Bruninho): Apesar de não ser o mais novo, é o menorzinho, nosso "mascote" (olha o tamanho da pessoa que vos escreve! Ahahahaha) ou "bichinho de pelúcia". Está sempre tirando com alguém ou fazendo os outros rirem, mas ele fica naquela pose de "eu sou um menino sério!". Adora comer comidas bem saudáveis... Faz algum curso relacionado à computadores também, só que na UNICAMP.
Lígia: Ela também veio em tamanho de bolso, só que não precisou de visto, pois tem cidadania italiana. Faz Direito na SANFRAN da USP, tem uma irmã gêmea (ainda bem que essa não está aqui, senão como saberíamos quem é Ligia e quem é Lívia? Ahahaha). É bem animada e simpática.
Fernando: ou seria Flávio? depende do dia, sô... (ou da quantidade de acompanhantes!) Esse menino tem dupla personalidade. Ahahahaha. Ele é muito calmo e querido, um ótimo ouvinte, sabe tocar piano e adora usar cachecóis. Ainda bem que ele "nunca" tropeça, pois olha a altura da queda... Fernando faz Engenharia Civil na UFSCar.
Michelle (Mi): NOOOOOOOOOSSSSSSSSAAAAAA!!! "Chupa essa manga".... Com certeza, não tem como pensar em Michelle sem ouvi-la falando essas expressões, é quase como marca registrada. Ela é engraçada, divertida, arrétada... Faz pedagogia na UFPE, ama ensinar crianças pequenas e não pára de falar um segundo. Ela adoraaaaaaa o filme "Um Amor Para Recordar" (A Walk To Remember, 2000, com Mandy Moore e Shane West), mais do que eu, se é que isso é possível, mas nunca vi tantas lágrimas...
Luciana (Lu): Lu é uma festeira de plantão e está sempre em todas as festas de Coimbra e de onde ela estiver. Também é super responsável e reservada (e à primeira vista, até séria!), mas muito amiga. Cursa Pedagogia na UnB.
Márcio (Márximus): Sucesso com ele é a palavra-chave, animação também o descreve muito bem. Deixem-no feliz com uma boa cerveja gelada e está tudo certo. Ele cursa algo relacionado à informática na UNICAMP (meninos, desculpe-me, confundi os cursos de vocês três... hehehehe).
Elton (Eltinho ou Salsa): O que falar do Elton? Ele quase nunca fala... mas nos surpreende com seus gestos simples e discretos, é gentil, amigão e, mesmo não falando, marca presença. Nem olhem muito que o Salsa é nosso, viu?! Cai na vida, menino, e deixa a gente ouvir sua voz, visse? Ele veio também da UFPA, faz Engenharia da Computação.
Douglas (Doug): Esse é o moço do gelzinho no cabelo e correntinha no pescoço... Quem vê, acha que é só mais um "mauricinho", mas dizem que quem vê cara não vê coração, não é verdade? Ele é muito cavalheiro, sempre disposto a ajudar, adora ouvir um "sertanejo universitário" e é muito divertido também. Faz Engenharia Química, na UFSCar.
Nayara (Nay): É uma cozinheira de mão cheia (santo strogonoff!), muito querida e amiga, sempre sorrindo, animadíssima para acompanhar a Lu em todas as festas. Ela faz Engenharia Civil na UNICAMP.
Ananda (Nandinha): a pessoa que vos fala veio em tamanho mini-mini de bolso e cursa Pedagogia na UFSC. Outras descrições se fazem desnecessárias.
Ana: Aninha não é ISAC, mas a conhecemos por ser ela quem divide o quarto com Lígia. Ela veio de Canoas, Rio Grande do Sul, faz Direito e é muito meiga e querida, além de ter viajado conosco no último fim de semana.
Heraldo (Geraldo, Harold, Aroldo, Sílvio Santos, ou simplesmente HB): incluído nas descrições porque ele é mais ISAC do que os ISAC que recebem bolsa, adotado unanimamente pelo grupo, apesar de termos conhecido-o de um modo diferente. Esse menino é extrovertido, animado e apronta “horrores” com a pessoa que vos escreve. Gosta de poesia, música popular brasileira e faz pose de menino sério, Nerd e cavalheiro, só de vez em quando.
Voltemos ao relato agora...
Está uma noite clara e limpa de céu estrelado, um pouco fria, mas o clima é bastante agradável. É quinta-feira, 12 de março de 2009 e os meninos foram ao supermercado Pingo Doce comprar ingredientes para o jantar. Eu, Michelle, Jéssica e Adriana estamos esperando-os voltar, pois fontes nos informaram que este seria o dia dos meninos na cozinha. Por fim, depois de esperarmos um bom tempo pelas "noivas", Nayara e Fernando começam a pôr água para esquentar na panela. Em geral, a Nay é quem sempre cozinha, mas esta noite, Fê será o cheff. O Cardápio: tortellini di prosciutto, formaggio e spinaci com molho branco de natas, brocólis e cogumelos.
- Foco, gente, volta! Ainda há muita coisa pra gente decidir...
Enfim, é sexta-feira, 13, uuuuuuuuu, MEDO!!! Amanheceu um lindo dia, sol forte e calor neste começo de primavera. Saio de camiseta de manga curta, depois das onze da manhã, "feliz e contente" por não precisar usar milhares de casacos, para fazer minha matrícula na U.C, depois da entrevista de autorização de residência no SEF. Oôoooo... DRIIC de portas fechadas, decepção geral depois de subir os 125 degraus das Escadas Monumentais (não, eu prefiro não ficar com as "pernas torneadas", está doendo os meus joelhos e eu sinto-me uma velha!).
Encontro as meninas: primeiro Dri Mitiko, almoçamos juntas, depois Lu e Jeh, correndo na Praça da República, e, em seguida, Nay, Vivi e Mi na agência dos Correios. Vamos à Mc Donald´s, "amo muito tudo isso!", refeição super saudável, sem nenhuma batata... O que são calorias mesmo? Oba!!! Tarde SÓ de meninas hoje!!! Vamos juntas às compras. "Rolé" por Coimbra em todas as lojas da "Baixa", aquelas vielas estreitas da cidade velha devem esconder muitas lojinhas com boas promoções de queima de estoque, afinal o inverno está acabando. Experimenta de cá, se arruma de lá, "não gostei da cor", "essa calça não entra", "está muito caro", muitos pijamas da Hello Kitty, "cor-de-rosa, não", "cor-de-rosa, sim", etc, etc, etc... Meninas!!! Aff!!! A santa indecisão feminina: o que levar.
Depois de andar, andar e andar, parada obrigatória na grande loja Lefties... E encontramos a Sílvia, o anjinho do DRIIC que nos aturou muito quando ainda chorávamos pelo visto por e-mail. Muitas sacolas nas mãos, felicidade só proporcionada de igual maneira por chocolate! "Ainda vamos ao Shopping Dolce Vita, não vamos?" É isso aí, somos incansáveis e indormíveis, somos ISAC! Zara, Worten, SportZone e Stradivarius... "Perfume bom, Michelle!" Vivi, eu, Mi e Jeh levamos o mesmo modelo de casaco para o frio, só variamos a cor... E agora? Pares de vaso e versão mini-mini no friozão da Serra! É a gangue do casaco! Meninos ligando para comprarmos lanche coletivo no Jumbo´s Supermercado. Como carregar? "Não, liga de volta para Alex, eles é que devem ir ao Pingo Doce!" Madalenas de chocolate (bolinhos) salvadoras da fome, no sofázinho da Worten e Vivi sem um computador novo... Ai, já são onze da noite e chegamos em casa agorinha... Ainda tem que arrumar as malas para a viagem, quando eu vou dormir??
O sábado começa animado com a super mensagem da Luciana no telemóvel: "Bom dia! Rumo à Serra... As 9h da manhã sai um autocarro para Coimbra B, então seria bom pegar ele 8:45. Todos prontos? A gente se encontra na saida do 0... Ah, e cada um vai ao -2 pegar algo das compras coletivas para carregar, se possível. Beijos." Dia de neblina, ruas geladas em Coimbra. Alex atrasado de novo e já era, perdemos o autocarro 29! Ó céus, o que fazer? Pegamos o 6 mesmo? É, pode ser, se descermos na Praça da Justiça e de lá, pegarmos qualquer outro para Coimbra B. Ô frio!!! Pausa para fotos, "sucesso" e risadas no autocarro. Chegamos à estação. Casas de banho (banheiros) fechadas com corrente e cadeado (vê se pode?). E agora? Senta e chora ou ajoelha e reza? Meia hora ainda até abrir a lojinha de aluguel de veículos! E então, finalmente, as chaves de três carros IBIZA pretos novinhos em folha (um pouco empoeirados, é verdade!), nas mãos de Lígia, Jéssica e Márcio. Quem vai dirigir? Quem vai com quem? A pessoa aqui batendo o pé... "não quero ir com Márcio!"... Nayara e sua eterna boa vontade em trocar de lugar. Carro número 1: Márcio de motorista, com Luciana de step e atrás Alex, Bruno e Adriana. Carro número 2: Jéssica de motorista, com Fernando de step e atrás, Vivian, eu e Michelle. Carro número 3: Douglas de motorista (com milhares de recomendações, por ainda ter só 19 aninhos!), Lígia de step e atrás, Ana, Elton e Nayara.
Bagunças mil na estrada... Fernando e sua companheira constante, a máquina fotográfica (visão panorâmica privilegiada + gosto = fotos lindas!). Michelle e Vivian cantando todas as músicas (boas e não tão boas assim) que elas conheciam. Eu, entrando para o coral feminino no carro das acompanhantes de Flávio! Muitas risadas, fotos dos carros da frente e de trás, placas engraçadas e U2 no rádio. U2 de novo. Mais U2... Michelle ao telefone com a família inteira (pai, mãe, tio e tia, gato, cachorro e galinha)... "Uhuuuuuuuuu, chupa essa manga!!! Desculpa, Recife, desculpa África...Mainha, eu tô na ESPANHA!!!", mesmo à 110 quilômetros ainda da divisa de países. Chocolate, chocolate e mais chocolate... Gargalhadas e mais gargalhadas.
Na tão esperada divisa entre Portugal e Espanha, parada obrigatória para as fotos do grupo. Primeiro as meninas (foto de muaaaaaa...monstras!) e depois dos meninos... Sim, não somos Jamie Sullivan, mas também podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo!!! Que lugar incrível!!! Fernando trazendo florezinhas amarelas para as "flores" do carro... E então, mais uns 100 quilômetros até a cidade de Salamanca, com belas paisagens de montanhas vermelho-escuro, vermelho-sangue, marrons e laranja, os pomares de árvores iguais simetricamente espaçadas no gramado verdinho, rebanho bovino pastando e ovelhinhas... Música espanhola na rádio, para entrar no clima caliente dos hermanos. Mais chocolate, fotos e risada. E Jeh indignada: "Fernando, acorda, tira foto da vaquinha!" "Ai, Fernando, a vaquinha colorida de novo, não acredito que você perdeu!"
Hora de voltar... Qual era mesmo o caminho para o estacionamento? Onde vamos dormir? Ah, meninos, esqueceram de reservar lugares em um Albergue, ora pois! Parada obrigatória para um lanchinho na Pizza Hutt dos hermanos e complicação para entender o menu. O que a garçonete está falando mesmo? SOCORRO!!! Pode ser pizza de pollo con quéso mesmo, mas afinal, era frango ou carne de soja? Ai, as batatas devem ser transgênicas, só pode! Saindo de lá, depois da refeição nada gordurosa e super saudável, ficamos rodando a cidade atrás de hotel, albergue, hostel ou qualquer lugar onde pudéssemos tomar um banho e descansar um pouco. Depois de muitas e muitas tentativas, a maioria resolveu concordar que a melhor opção seria alugar lugares para os carros em um Camping e dormirmos no carro mesmo, ou nem dormirmos, já que o povo queria conhecer a Night de Salamanca.
Em Casa (Por Adriana Mitiko):
O que faz com que nos sintamos em casa?
Na minha casa...
Aquelas paredes, telhados, mofos, aquele cantinho pra consertar, pra redecorar,
O chá pronto ao amanhecer, como se a mãe desse bom dia, mesmo não estando mais lá,
Uma grande janela pra poder assistir o mundo,
Alguns aparelhos eletrônicos, músicas, a internet, livros, cordas.
Encontrar os outros, o barulho dos vizinhos,
Encontrar todas as suas fantasias e trajes.
Um lugar pra ficar sozinho
Pra confraternizar,
Pra se enconder...
Talvez muita comida, talvez pouca,
Talvez gatos, talvez cães, necessitando que você esteja lá todos os dias.
Pra que se sentir em casa?
Talvez pra sentir que realmente se está em algum lugar...
Pra se encontrar consigo mesmo,
Suas pendências, suas contas, suas limpezas...
Como construir uma casa?
Procurando por engenheiros e pedreiros...
Pessoas fazem casas,
Faço casas em mim,
Encontro casas nos outros
E estarei em casa enquanto estiver com pessoas que me ajudem
a mantê-la e a construí-la.
Porco e batatas (Por Jéssica de Assis Silva)
Tão comum como carne de porco e batatas. O curioso é a falta de intimidade com o quotidiano. Se você quer conhecer um lugar e ter a convicção de que o que fez por um sonho é o possível e o ideal, tem que incorporar os costumes locais. Não digo que não pode reclamar ou expressar de outra forma a contrariedade oriunda de ti.,. seus medos e anseios... suas expectativas e vontades... Mas aceitar o novo.
O problema é que se confunde o aceitar com a incondicional “cara pacífica”... e a politica da boa vizinhança atua mais uma vez. A verdade do aceite é relacionada ao respeito, e não a submissao. Ao conhecimento... e não ao fechar de olhos. Respirar fundo... esperar menos e viver mais. Há uma imensidão a ser desvendada e entregar-se para a duvida é limitar-se para o experienciar.
Tal qual porco e batatas o riso e o sorriso são sua rotina. Ignore-os e não há alimento para sua estadia e energia para a realização dos seus sonhos. Use-os e o melhor da vida há de emergir.
Lembre-se:
Espere menos e faça mais.
Não exija que os outros sejam iguais a ti.
Tenha humildade e a longevidade vem por si só
Há varias maneiras de se preparar um prato e nem todas agradam a todos
O cliente sempre tem razão, mas é o cozinheiro que decide o quanto de tempero vai na comida.
P.S.: Não costuma faltar sal na sua panela.. J
Queria... (por Michelle Soares)
Não quero alguém que morra de amor por mim... Só preciso de alguém que queira viver comigo, que queira estar junto a mim, compartilhando... Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando à sua maneira, afinal não é porque alguém não demonstra da mesma forma que quer dizer que não te ame com a mesma intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim... Nem que eu faça a falta que elas me fazem. O importante é sentir a alegria no coração quando penso nelas, de me doar e vê-las... simplesmente poder demonstrar.. porque como dizia o poeta: amor com amor se paga.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre... E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor. Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém... e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias, metas e aparentes loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho... Que perceba que abuso demais dos bons sentimentos, sabe aquela "menina" que gosta de graça? Pois é... E que ele que dê valor ao que realmente importa, e que ele saiba o que realmente importa... porque minha cabeça vai nas nuvens, mas meus pés estão fincados no chão. E quero ter alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre a mesma, salvo algumas adaptações que a vida nos exige...
Não quero brigar com o mundo, lembrar o que ele tem de pior... e Deus me livre não consegui mais me emocionar mais com aquele comercial de margarina, com aquela roseira florida... mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para saber ainda que o amor existe... Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade. Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito...
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas... Que a esperança nunca me pareça um "não" que a gente teima em maquiar de verde e entender como "sim". Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar ... Sem correr o risco de feri-lo sendo em mesma...
Quero um dia vestir aquele branco... aquele que nos permite viver a vida inteira ao lado de alguém... e que seja uma busca diária pelo melhor, mesmo sabendo que não será fácil... que para ele a hora mais feliz do dia seja quando eu abro os olhos pela manhã ao seu lado e ele perceba que estou ali, viva... Que eu sinta paz no coração ao vê-lo dormir... e que ele em mim encontre forças para a luta cotidiana, uma companheira que o faça crescer ainda mais, que ele saiba que escolher o bem nunca foi o caminho errado... que é bom chegar em casa após cansado e uma criança pular em seus braços e dizer que a hora mais feliz do dia é quando seu pai chega em casa... e que receba um beijo caloroso meu e diga que foi o melhor beijo de sua vida até agora, mas sabe que o de amanhã vai ser melhor que o de hoje...
Quero quando nossos corpos se encontrarem ele saiba que o amor pode ser demonstrado de várias maneiras... e que ele possa dormir com as pernas entrelaçadas no meu corpo, despreocupado... e quando nos olharmos nos olhos possamos pensar juntos em como nós somos sortudos de termos um ao outro... que quando nossos filhos ficarem entre nós à noite possamos abraça-los e transmitir a segurança necessária... que ao sairmos juntos andemos todos de mãos dadas pelas ruas, agradecendo à Deus pela dádiva da família...
Que tenhámos o princípio que nenhum sucesso na vida compense o fracasso no lar... que eu consiga sempre estar presente apesar da vida profissional conturbada... que eu sinta prazer em cozinhar aquela macarronada no domingo... que eu dance com meus filhos na sala parecendo uma animadora de programa infantil e não sinta a menor vergonha... que eu vibre com suas conquistas e que eu tenha discernimento pra poder educa-los de maneira adequada, que nem seja demais nem de menos...
Quero, um dia, poder dizer aos meus filhos que nada foi em vão... que o amor existe, que vale a pena lutar por ele, se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim...e que valeu a pena... mesmo em todas as vezes que achei que não valia!
Quero deixar pra os meus filhos a certeza de que o dinheiro não é a maior herança a ser deixada pra alguém, que eles tenham a sensação de que sentir o amor de mãe é como sentir Deus mais próximo de nós... que é bom chegar em casa e sentir carinho, que às vezes não é expresso verbalmente, mas sim naquele cuidado da roupa limpa, da casa em ordem, da mesa posta, da conversa calorosa e dos sorrisos à mesa...
Quero que eles não consigam amar apenas na despedida, que não esperem perder para valorizar... que eles sintam prazer em ir para casa todos os dias, que o sopro no machucado no joelho pareça uma mágica anestesia, que o medo da chuva à noite os façam me entrelaçar ao ponto de quase entrarem no meu ventre novamente, que sejamos um elo, uma corrente e que eles saibam dizer eu te amo sem medo... sem sentir o peso das palavras, mas que conheçam melhor do que ninguém o significado desta frase... e que encontrem alguém que compartilhe dessa mesma idéia...
Quero que eles vejam coisas boas nas pessoas, que agradeçam a Deus pelo aconchego do lar e pelo sol que entra no quarto de manhã... que caminhem com suas próprias pernas mas que deixem ao menos uma mão livre pra segurar na minha, e que ao tropeçar eu esteja ali pra dar o apoio, mas que eles percebam que o equilibrio depende deles mesmos...
Quero que quando não tenham de voltar mais pra casa todos os dias eu não sinta vazio... sinta que o amor que nos une foi capaz de gerar outras famílias... que eu perceba que eles cresceram e que voltem aos domingos com nossa família crescida, com crianças que não serão mais minhas, mas terão aquele mesma candura que um dia seus pais tiveram... e quero ficar orgulhosa em ver meus filhos não são mais meus pequenos, que estão fazendo aquilo que toda vida demonstrei pra eles, passando nossas verdadeiras heranças, agora para seus filhos...
Quero sentir orgulho da família que meus filhos formarão... quero olhá-los e dar aquele suspiro de felicidade e saber que um dia foram crianças tão amadas e que hoje se tornaram adultos melhores que eu...
Quero nunca ter medo de envelhecer e quero que Deus me ajude a achar a beleza em cada fase da minha vida... não a beleza física, mas a beleza que a maturidade nos proporciona... quero um dia olhar para meu lado e ver um velhinho sorrindo, e eu agradecer a ele por ter compartilhado sua vida inteira comigo... por ter me escolhido... quero que ele me fale que minhas manias apesar de chatas não superaram minhas qualidades, quero que ele pegue nosso album, sopre a poeira e relembre como eramos jovens, os momentos especiais que passamos juntos e as dificuldade que enfrentamos também e dê aquela gostosa gargalhada que depois de tantos anos ainda vai soar como música para meus ouvidos... que nossas risadas se afinem numa gostosa melodia...
Quero me emocionar quando souber que meus netos terminaram a universidade, que casaram, que a família aumentou mais uma vez... quero olhar para meus filhos e ver que já passaram dos quarenta... e que quando sentir o peso da velhice no meu corpo Deus me leve para continuar a vida em outro lugar, porque aqui estamos de passagem... quero que ao chegar do outro lado, bons amigos me esperem, que possam tocar no meu ombro e dizer: missão cumprida minha irmã... vamos continuar a trabalhar pelo bem aqui deste lado...
Que os meus chorem minha partida, mas que o desespero nunca os façam achar que o mundo acabou... que possam cantar minha música favorita na minha ida... que possam ler meus escritos e me sentir neles... que lembrem daquela que tentou com todas as forças ser uma boa filha, irmã, namorada, tia, esposa, mãe, avó... e que sintam minha presença nos pequenos detalhes de suas personalidades... e tenham certeza que estarei olhando por eles... e que não tenham dúvidas que o amor verdadeiro levamos conosco, onde quer que estejamos...